11 Poemas de Cora Coralina

Humildade Humildad

Senhor, fazei com que eu aceiteSeñor, haga con que yo acepte
minha pobreza tal como sempre foi.Mi pobreza tal cual siempre fue.
  
Que não sinta o que não tenho.Que no sienta lo que no tengo.
Não lamente o que podia terNo lamente lo que podría tener
e se perdeu por caminhos erradoslo que se perdió por caminos erróneos
e nunca mais voltou.y nunca más regresó
  
Dai, Senhor, que minha humildadeHaga, Señor, que mi humildad
seja como a chuva desejadasea como la lluvia deseada
caindo mansa,que cae suave,
longa noite escuraextensa noche oscura
numa terra sedentaen una tierra sedienta
e num telhado velho.y en un viejo  tejado
  
Que eu possa agradecer a Vós,Que yo pueda agradecerLe
minha cama estreita,Mi angosta cama,
minhas coisinhas pobres,Mis cositas pobres,
minha casa de chão,Mi casa de tierra,
pedras e tábuas remontadas.piedras y tablas apiladas.
E ter sempre um feixe de lenhaY siempre tener un haz de leña
debaixo do meu fogão de taipa,debajo de mi fogón de tapia,
e acender, eu mesma,para prender, yo misma,
o fogo alegre da minha casael alegre fuego de mi casa
na manhã de um novo dia que começa.en la mañana del nuevo día que comienza

Estoy hecha de retazos

Estoy hecha de retazos.

 Pedacitos coloridos de cada vida que pasa por la mía

y que voy cosiendo en el alma.

 No siempre son bonitos,

ni siempre felices,

pero me agregan y me hacen ser quien soy.

 En cada encuentro, en cada contacto,

voy quedando mayor…

 En cada retazo una vida,

una lección, un cariño, una nostalgia…

 Que me hacen más persona,

más humana, más completa.

 Y pienso que es así como la vida se hace:

de pedazos de otras gentes que se van convirtiendo en parte de la gente también.

 Y la mejor parte es que nunca estaremos listos ni finalizados…

 Siempre habrá un retazo para añadir al alma.

 Por lo tanto, gracias a cada uno de ustedes,

que forman parte de mi vida y que me permiten engrandecer mi historia con los retazos dejados en mí.

Que yo también pueda dejar pedacitos de mí por los caminos y que puedan ser parte de sus historias.

Y que así, de retazo en retazo podamos convertirnos, un día,

en un inmenso bordado de «nosotros».

Mascarados


Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.

O poeta e a poesia

Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.

Poeta é a sensibilidade acima do vulgar.
Poeta é o operário, o artífice da palavra.
E com ela compõe a ourivesaria de um verso.

Poeta, não somente o que escreve.
É aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.

Poeta é ser ambicioso, insatisfeito,
procurando no jogo das palavras,
no imprevisto texto, atingir a perfeição inalcançável.

O autêntico sabe que jamais
chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.

Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, à apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro…
Tão pobre ainda a sua bagagem cultural,
tão restrito seu vocabulário,
enxugando lágrimas que não chorou,
dores que não sentiu,
sofrimentos imaginários que não experimentou.

Falam exaltados de fome e saudades, tão desgastadas
de tantos já passados.
Primário nos rudimentos de sua escrita
e aquela pressa moça de subir.
Alcançar estatura de poeta, publicar um livro,

Oriento para a leitura, reescrever,
processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
A escola não os ajudou, inculpados, eles.

Todos nós temos a dupla personalidade.
O id e o ego.
Um representa a sua vida física, material completa
Pode ser brilhante, enriquecida de valores que ajudam a ser feliz,
pode ser angustiada e vacilante, incerta, insatisfeita.
Mesmo possuindo o que deseja, nada satisfazendo.
O id representa sua vida interior paralela, ambivalente,
exercendo seu comando em descargas nervosas,
no eterno conflito entre a razão e o impulso incontrolado.
Dupla vida inter e extra, personalidade se contrapondo.
Pode ser trivial e dependente, podemos fazê-la rica e cheia de nobreza,
nos valendo da força incomensurável do pensamento positivo
emanado da vida interior que é o nosso mundo,
invisível a todos, sensível ao nosso ego.

Há sempre uma hora maldita na vida de um homem.
Pode levá-lo ao crime e às paredes sombrias de uma cela escura.
Um curto circuito nas suas baterias carregadas,
uma descarga nas linhas de transmissão potencial.
Daí, fatos aberrantes que surpreendem.

Conclusões demolidoras de um passado brilhante.

Não sei…

Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.

Cora Coralina, quem é você?

Sou mulher como outra qualquer.

Venho do século passado

e trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serra

Entre serras e morros.

“Longe de todos os lugares”.

Numa cidade de onde levaram

o ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorreram

a minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiam

as escarpas agrestes.

E eu fechada dentro

da imensa serrania

que se azulava na distância

longínqua.

Numa ânsia de vida eu abria

O vôo nas asas impossíveis

do sonho.

Venho do século passado.

Pertenço a uma geração

ponte, entre a libertação

dos escravos e o trabalhador livre.

Entre a monarquia caída e a república

que se instalava.

Todo o ranço do passado era presente.

A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.

Os castigos corporais.

Nas casas. Nas escolas.

Nos quartéis e nas roças.

A criança não tinha vez,

Os adultos eram sádicos

aplicavam castigos humilhantes.

Tive uma velha mestra que já

havia ensinado uma geração

antes da minha.

Os métodos de ensino eram

antiquados e aprendi as letras

em livros superados de que

ninguém mais fala.

Nunca os algarismos me

entraram no entendimento.

De certo pela pobreza que marcaria

Para sempre minha vida.

Precisei pouco dos números.

Sendo eu mais doméstica do

que intelectual,

não escrevo jamais de forma

consciente e racionada, e sim

impelida por um impulso incontrolável.

Sendo assim, tenho a

consciência de ser autêntica.

Nasci para escrever, mas, o meio,

o tempo, as criaturas e fatores

outros, contra-marcaram minha vida.

Sou mais doceira e cozinheira

Do que escritora, sendo a culinária

a mais nobre de todas as Artes:

objetiva, concreta, jamais abstrata

a que está ligada à vida e

à saúde humana.

Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.

Sempre houve na família, senão uma

hostilidade, pelo menos uma reserva determinada

a essa minha tendência inata.

Talvez, por tudo isso e muito mais,

sinta dentro de mim, no fundo dos meus

reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.

Sobrevivi, me recompondo aos

bocados, à dura compreensão dos

rígidos preconceitos do passado.

Preconceitos de classe.

Preconceitos de cor e de família.

Preconceitos econômicos.

Férreos preconceitos sociais.

A escola da vida me suplementou

as deficiências da escola primária

que outras o destino não me deu.

Foi assim que cheguei a este livro

Sem referências a mencionar.

Nenhum primeiro prêmio.

Nenhum segundo lugar.

Nem Menção Honrosa.

Nenhuma Láurea.

Apenas a autenticidade da minha

poesia arrancada aos pedaços

do fundo da minha sensibilidade,

e este anseio:

procuro superar todos os dias

Minha própria personalidade

renovada,

despedaçando dentro de mim

tudo que é velho e morto.

Luta, a palavra vibrante

que levanta os fracos

e determina os fortes.

Quem sentirá a Vida

destas páginas…

Gerações que hão de vir

de gerações que vão nascer.

O cântico da terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.

Do meu barro primeiro veio o homem.

De mim veio a mulher e veio o amor.

Veio a árvore, veio a fonte.

Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.

Sou a telha da coberta de teu lar.

A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado

e certeza tranquila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.

De mim vieste pela mão do Criador,

e a mim tu voltarás no fim da lida.

Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.

Tua filha, tua noiva e desposada.

A mulher e o ventre que fecundas.

Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.

Teu arado, tua foice, teu machado.

O berço pequenino de teu filho.

O algodão de tua veste

e o pão de tua casa.

E um dia bem distante

a mim tu voltarás.

E no canteiro materno de meu seio

tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.

Lavremos a gleba.

Cuidemos do ninho,

do gado e da tulha.

Fartura teremos

e donos de sítio

felizes seremos.

Saber vivir

No sé… si la vida es corta

o demasiado larga para nosotros.

Mas sé que nada de lo que vivimos

tiene sentido, si no tocamos el corazón

de las personas.

Muchas veces basta ser:

regazo que acoge,

brazo que envuelve,

palabra que conforta,

silencio que respeta,

alegría que contagia,

lágrima que corre,

mirada que acaricia,

deseo que sacia,

amor que motiva.

Y eso no es cosa de otro mundo,

es lo que da sentido a la vida,

es lo que hace que ella

no sea ni corta, ni demasiado larga,

sino que sea intensa,

verdadera, pura…. mientras dure.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto (Goiás, Brasil, 20 de agosto de 1889 – Goiânia, Brasil, 10 de abril de 1985), conocida como Cora Coralina. Poeta y cuentista . Es considerada una de las poetas brasileñas mas importantes del siglo XX. En 1984, la Unión Brasileña de escritores la nombró «personalidad literaria del año».

Hija de Jacintha Luiza do Couto Brandão Peixoto y  Francisco Paula Lins Guimarães Peixoto, una ama de casa y un juez, pasó su infancia y adolescencia en una vivienda que pasaría a ser conocida como “la vieja casa del puente”, a las orillas del río Vermelho, hoy transformada en un museo.

Cora Coralina empezó a escribir poesía a los catorce años y llegó a publicar en 1908 en el diario  de poemas femeninos “A Rosa”. En 1910, su cuento “Tragédia na Roça” fue publicado en el “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”, donde usó el pseudónimo de Cora Coralina por primera vez.

Coralina se enamoró del abogado y jefe de policía Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, con quien se fue de Goiás en 1911, ya embarazada de gemelos –los dos primeros de un total de seis hijos–. Cantídio estaba casado, y como en aquel entonces no existía la figura del divorcio en la legislación brasileña, ellos solo pudieron oficializar su unión en 1925, cuando él enviudó.  Al morir Cantídio, en 1934 Cora Coralina se fue a vivir a Sao Paulo dedicándose a la actividad agrícola para mantener a su familia.

En 1936 se traslada a Andradina, donde comienza a escribir para el periódico de la ciudad. En 1951 se postuló para concejal. Después de cinco años, decide regresar a su ciudad natal. En 1959, a la edad de 70 años, decide aprender a mecanografiar para preparar su poesía y entregarla a los editores.

También trabajó como vendedora de libros en la editorial  José Olimpio, que al final editó y lanzó su primer libro en 1965, “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”. En 1970 asumió la cátedra nº. 5 de la Academia Femenina de Letras y Artes de Goiás.

En 1976, el libro “Meu Livro de Cordel” fue lanzado por la editorial Goiana. Gracias a los elogios que el poeta Carlos Drummond de Andrade hizo sobre Cora, en 1980 su figura se hizo muy popular y su obra llegó al gran público. En los últimos años de su vida, su labor fue reconocida al ser invitada a participar en conferencias y programas de televisión. 

Esas fueron las palabras de Drummond :

«Minha querida amiga Cora Coralina: Seu «Vintém de Cobre»é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado.É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence.É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( …).»(Drumond, 1997, p.23).

«Mi querida amiga Cora Coralina: Tu «Vintém de Cobre» es para mí una moneda de oro, y un oro que no sufre las fluctuaciones del mercado. Es uno de los poemas más directos y comunicativos que he leído y amado. ¡Qué riqueza de experiencia humana, qué sensibilidad especial y qué lirismo identificado con las fuentes de la vida! Hoy Aninha no nos pertenece. Es herencia de todos nosotros, que nacimos en Brasil y amamos la poesía (…) «.

En 1983 recibió el título de Doctor Honoris Causa de la UFG (Universidad Federal de Goias) y fue elegida intelectual del año, a través del premio Juca Pato de la União Brasileira dos Escritores, siendo hasta hoy la única escritora mujer en recibir tal premio. En 1984 fue nominada por la Academia Goiânia de Letras, ocupando la cátedra nº. 38.

Cora Coralina murió el 10 de a abril de 1985 en Goiânia por complicaciones derivadas de una neumonía a la edad de 95 años.

El enfoque en la belleza de lo simple y la autenticidad de las experiencias comunes, presentes en la obra de Coralina, ha contribuido a su creciente fama para todo tipo de público y ha inspirado a una nueva generación de escritores y lectores.

Su poesía y su personalidad se volvieron tan conocidas en Brasil que la TV O’Globo hizo una telenovela sobre su vida.

Enlaces de interés :

https://web.archive.org/web/20110907033553/http://www.casadecoracoralina.com.br/museu.html

https://agenciabrasil.ebc.com.br/es/cultura/noticia/2015-04/hace-treinta-anos-brasil-perdio-la-poetisa-cora-coralina


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